domingo, 7 de setembro de 2008

Atalaias do termo de Monsaraz

A posição estratégica da vila de Monsaraz permitia detectar o inimigo com antecedência, pois dava conta do perigo através da comunicação visual entre o conjunto fortificado e a rede de atalaias envolvente.

Quando nos debruçamos um pouco sobre a natureza das hostilidades fronteiriças ligadas às “Restauração”, compreendemos melhor não só a funcionalidade das “atalaias”, como aceitamos sem grande reserva que elas tenham sido construídas nesta época em resposta a necessidades estratégicas bem concretas.

A implantação das “atalaias” no terreno representou pois a resposta possível a uma ameaça permanente, visando criar um mínimo de condições que permitissem controlar visualmente e com alguma antecedência o movimento de tropas inimigas de modo a facilitar a fuga para o abrigo das fortalezas ou preparar o contra-ataque.

Especificamente no que diz respeito à região de Monsaraz, as atalaias ao longo do Azevel criavam uma linha de aviso suficientemente recuada em relação à fronteira física constituída pelo Guadiana, procurando detectar eventuais movimentos de envolvimento por Nordeste, em direcção a Monsaraz.

Por sua vez, numa larga frente a Este, entre a foz do Azevel e a Foz do Álamo – com excepção da atalaia de S Gens, bastante afastada do Guadiana – não encontramos qualquer estrutura deste tipo nas proximidades do rio.

Tal facto justifica-se pelo afastamento da linha de fronteira para Leste, o que fazia de Mourão e das quatro atalaias que rodeavam esta praça-forte, a principal frente contra eventuais incursões inimigas.

Finalmente, a Sul da Ribeira do Álamo, a primeira linha de aviso passa de novo a situar-se ao longo da margem direita do Guadiana, preferencialmente junto aos portos ou vaus, locais de passagem obrigatória, mesmo em épocas de seca.

Tal opção, apesar de o rio aqui também não servir de fronteira, explica-se pelo facto de entre as praças militares de Mourão e Lura (cerca de 40km), não existir qualquer impedimento, natural ou artificial, à passagem do inimigo.

Considerando que a ribeira do Degebe representava um obstáculo de difícil transposição, protegia-se assim Monsaraz de manobras de envolvimento conduzidas de Sudeste.

Lista de possíveis atalaias:

1. Cabeços da Rainha
situada num cabeço dominante sobre a Ribeira de Azevel, cujas margens controla visualmente por alguns quilómetros.

2. Cabanas de Choupana

Localizada a 600m a Este das Cabanas da Choupana, na margem direita da Ribeira do Azevel.

3. Cocos
Situa-se na margem esquerda do Azevel (já em território do concelho do Alandroal) em elevação dominante sobre a ribeira, a Sul do moinho da Curva.

4. Monte do Gato
Situa-se numa plataforma elevada sobre a margem direita do Azevel, cerca de 700m a Norte do monte do Gato.

5. Calvinos
Situada a meia encosta, dominando o Guadiana, na zona em que este deixa de servir de fronteira, imediatamente a montante da confluência com a Ribeira de Cuncos. Localiza-se a Norte da ribeira do Azevel, já em território do concelho do Alandroal, mas deveria fazer parte do sistema de alerta para possíveis investidas de Nordeste sobre a praça de Monsaraz. De referir que, pelo menos desde o tratado de Alcanides (1297) o Guadiana, a Norte da Ribeira de Cuncos (margem esquerda) funcionava como fronteira com Castela.

6. S Gens
situa-se no alto de uma elevação dominante e de difícil acesso, localizada entre a vila de Monsaraz e o rio Guadiana. Dada a sua posição ocupaa certamente um papel especial no dispositivo de alerta da fortaleza de Monsaraz, facilitando a ligação visual com a praça de Mourão.

7. Porto de Portel
Situa-se a meia encosta, na margem direita, em posição estratégica para observação da passagem do Guadiana conhecida como “Porto de Portel”.

8. Moinho Novo
Localiza-se a 750 m a NE do Monte da Cismeira, no topo de uma elevação sobranceira ao Guadiana e com boa visibilidade sobre o Rio.

9. Cismeira
Situa-se no topo de pequena elevação sobranceira ao Guadiana e com boa visibilidade sobre este.

10. Trafal
Situa-se no cimo de uma elevação, próximo do marco geodésico do Trafal dominando visualmente uma extensa área do curso do Guadiana.

11. Cú de Pato
Situa-se a meia encosta de uma pequena elevação sobranceira ao Guadiana, com óptima visibilidade sobre a passagem a vau conhecida pelo nome de Porto do Cú de Pato.

12. Porto Meirinho
Localiza-se a meia encosta de uma pequena elevação sobranceira ao Guadiana, controlando a passagem a vau do “Porto Meirinho”, onde a antiga estrada que vinha da povoação da estrela cruzava o Rio.

13. Porto Espada
Localiza-se numa pequena elevação da qual se domina visualmente um importante sector do curso do Guadiana, incluindo a passagem a vau do “Porto Espada”.

14. Rocha da Gramacha
Situada no topo de uma escarpa sobranceira do Guadiana e com excelente visibilidade a montante e a jusante.

info: C. M. Reguengos de Monsaraz
Fontes Bibliografia: aqui

3 comentários:

O Micróbio II disse...

Um apanhado com boa visão e interpretação histórica...

António Caeiro disse...

Obrigado pelas visitas.

Anónimo disse...

As coisas que tu sabes, meu amigo!
Gosto especialmente da expressão "Cu de Pato"...quem lhe atribuiu o nome devia ser muito à frente!