Exaltação Alentejana
Elevam-se hoje os campos àqueles que com os olhos postos
neles os amam já pela admiração. Elevam-se, os pequenos campos, e podiam
dizer-se outrora morada do Deus que tudo de belo cria, tão altos, beijando
suavemente o azulado suave de um céu aberto que não sabe mais que dar
boas-vindas.
Abertos encontram-se
também os braços beijados pelo mesmo dourado que pinta planícies, como se de
ouro, pelo dourado que queima docemente qualquer um que ouse calcorrear
calçadas e veredas estreitas, velhas mas sábias, com histórias para contar que
nem eu mesma conheço.
Tudo o que aqui se faz, faz-se com amor e orgulho embrulhado
em peitos que alentavam as mãos feridas que ergueram colinas e casas – casas e
lares, que não são apenas de quem os construiu mas de todos aqueles que, hoje,
melhor os decoram. Com palavras gentis e
sorrisos, olhares perdidos para lá do espelho de água, perscrutando a beleza da
serenidade da natureza alentejana que perante si se ergue, senhora mãe e
senhora filha – em cada momento fazendo-se fénix.
Eleve-se hoje o refúgio da parafernália quotidiana, da
contemporaneidade amestrada e manipulada e nele se fechem os olhos para que o
vento corra, criança, de mansinho pela pele. Nele se fechem os olhos,
principalmente, para escutar o silêncio das vozes, roucas e vibrantes de quem
canta da Humanidade o pequeno oásis que é Monsaraz. – Quando a ele se chega
nunca mais dele se parte.
Mas que seria a glorificação de pai, sem seus filhos? Que
seria falar de Monsaraz sem falar de todas as pequenas aldeias que grande
discurso nos deixam na memória – em histórias pinceladas, cristalizadas na
simplicidade do barro que é o pó que os nosso pés pisam e que nasce da magia
ancestral de quem sabe amar a sua tradição; em rochas que encerram em si o
poder da crença ainda menina resultando dela um sorriso aberto quando a
pedrinha se equilibra na Rocha dos Namorados; na cidade de onde provém o elixir
que próprio Baco teria cobiçado. Que seria, ainda, não falar deste cantinho que
hoje se estende por fotografias e melodias e esplanadas e varandas que nos
deixam sempre a mesma sensação: é tão grande o mundo, mas tão maior o Alentejo.
Mas tão maior a distância entre o Alqueva e o céu. Mas tão melhor a proximidade
da vida á terra, onde a vida e a terra se misturam numa só. Como sempre o
foram.
Cante-se, em uníssono, as belezas destas muralhas ao sol, o
seu reflexo naqueles que as carregam às costas como suas, por suas. Cante-se a
vida. Serena, apaziguadora. Cante-se o canto de anos e anos de madrugadas
frescas e tardes solarengas, molengonas, como por cá dizemos, porque por cá
dizemos. Cante-se isso tudo com o canto das aves, e o sussurro das águas, e as
gargalhadas com o forte sotaque característicos e cante-se a nossa terra.
Cante-se a nossa origem. Cante-se o nosso orgulho, porque ele pode e ele deve e
ele vai.
Sem importar gerações, géneros, crenças. Cante-se o simples
esplendor da natureza em comunhão com a humanidade onde a natureza e a
humanidade se seguram e se apoiam mutuamente.
Elevo hoje o cantinho á beira Alqueva plantado, cantinho
lato no meu coração. Cantinho lato na minha canção. Cantinho, que será, sempre
lato na minha condição.
Quando a nós ele
chega, nunca mais de nós ele parte.
Crónicas do Alto da Vila, por Inês Valadas
01.08.2015
(Fotografia de António Caeiro)
(Fotografia de António Caeiro)
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