segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Crónicas do Alto da Vila | por Luís Filipe Marcão | 01.01.2018

Viva o Novo Ano

Não sei com que palavras irei encetar 2018. Pensei em tantas. Cheguei aqui, a este cabeço onde se ergue Monsaraz e ao lado dos cantadores que já fazem parte deste sítio, bebi a paisagem. Avisto a ponte qual centopeia ligando as margens, o grande lago embalando a minha tranquilidade, mais ao longe as terras de Espanha, mais à esquerda, lá em baixo a praia fluvial e atrás as muralhas do castelo, a bandeira drapejando no alto da torre de menagem. Quantos olhares seguiram o mesmo percurso?

 É verdade que este local tem uma magia própria, genius locci, espécie de termas para o espírito de quem precisa de um pouco de inspiração ou retemperar as forças criativas. Daqui por alguns anos outros tomarão o nosso lugar à descoberta da originalidade. Com que palavras encetaremos 2018?
As mesmas de sempre? Paz, saúde, Amor, fraternidade? Com que desejos vou embrulhar o novo ano? Mais justiça, mais igualdade, mais tolerância, mais dignidade e oportunidades?   
 Que projectos e intenções trazemos escondidos na manga? As tais corridinhas de manhã para abater tecidos adiposos, o largar de vez o cigarro? O tal mealheiro conta-gotas para imprevistos, o curso que ficou em meio, os idiomas que nunca falámos? Os livros que continuam na estante sem ser lidos, as palavras sem-abrigo que vivem solitárias sem o aconchego de um poema?
 Recordo muitos dos votos proclamados em datas anteriores e, no ano novo ainda a gatinhar, sempre descobri alguma semelhança com os cadernos que utilizava nas aulas da primária. Nas primeiras páginas tudo muito certinho, letra aprumada, folha limpa de borrões, sem erros, numa tentativa de honesta mudança. Algumas folhas à frente, passado o efeito psicológico do início, voltava a caligrafia irregular, as cópias despachadas esquecidas da pontuação, o olhar reprovador da professora inclinado sobre as evidencias da cabulice e falta de zelo.

 Sempre fui um habitué do dicionário, aquele livro volumoso que contém todos os vocábulos. Lembro-me de gostar em particular do H talvez porque as palavras não eram assim tantas e eu entendia que elas deveriam ter a mesma procura e importância que as outras irmãs do alfabeto.

  
  Para este ano de 2018 ainda a saber a champanhe vou escolher humanização harmonia e humildade como pilares e desígnios de novos hábitos que resgatem o homem e o transformem num hino de alegria.

CRÓNICAS DO ALTO DA VILA
01.01.2018 
(fotos: António Caeiro)

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