Viva o Novo Ano
Não sei com que palavras irei encetar 2018. Pensei em tantas.
Cheguei aqui, a este cabeço onde se ergue Monsaraz e ao lado dos cantadores que
já fazem parte deste sítio, bebi a paisagem. Avisto a ponte qual centopeia
ligando as margens, o grande lago embalando a minha tranquilidade, mais ao
longe as terras de Espanha, mais à esquerda, lá em baixo a praia fluvial e
atrás as muralhas do castelo, a bandeira drapejando no alto da torre de menagem.
Quantos olhares seguiram o mesmo percurso?
É verdade que este
local tem uma magia própria, genius locci, espécie de termas para o espírito de
quem precisa de um pouco de inspiração ou retemperar as forças criativas. Daqui
por alguns anos outros tomarão o nosso lugar à descoberta da originalidade. Com
que palavras encetaremos 2018?
As mesmas de sempre? Paz, saúde, Amor, fraternidade? Com que
desejos vou embrulhar o novo ano? Mais justiça, mais igualdade, mais
tolerância, mais dignidade e oportunidades?
Que projectos e
intenções trazemos escondidos na manga? As tais corridinhas de manhã para
abater tecidos adiposos, o largar de vez o cigarro? O tal mealheiro conta-gotas
para imprevistos, o curso que ficou em meio, os idiomas que nunca falámos? Os
livros que continuam na estante sem ser lidos, as palavras sem-abrigo que vivem
solitárias sem o aconchego de um poema?
Recordo muitos dos
votos proclamados em datas anteriores e, no ano novo ainda a gatinhar, sempre
descobri alguma semelhança com os cadernos que utilizava nas aulas da primária.
Nas primeiras páginas tudo muito certinho, letra aprumada, folha limpa de
borrões, sem erros, numa tentativa de honesta mudança. Algumas folhas à frente,
passado o efeito psicológico do início, voltava a caligrafia irregular, as
cópias despachadas esquecidas da pontuação, o olhar reprovador da professora
inclinado sobre as evidencias da cabulice e falta de zelo.
Sempre fui um habitué
do dicionário, aquele livro volumoso que contém todos os vocábulos. Lembro-me
de gostar em particular do H talvez porque as palavras não eram assim tantas e
eu entendia que elas deveriam ter a mesma procura e importância que as outras
irmãs do alfabeto.
Para este ano de 2018 ainda a saber a
champanhe vou escolher humanização harmonia e humildade como pilares e
desígnios de novos hábitos que resgatem o homem e o transformem num hino de
alegria.
CRÓNICAS DO ALTO DA VILA
01.01.2018
(fotos: António Caeiro)
(fotos: António Caeiro)
Sem comentários:
Enviar um comentário